O dia que eu te beijar
será um dia comum
como outro qualquer.
um dia desses como tantos,
que nem se vê direito passar.
com todos aqueles beija-flores
frenéticos e incansáveis,
saracoteando do vermelho pro rosa,
do amarelo pro lilás.
anum atrás de anum, disputando
uma companheira no alto da goiabeira,
sem falar nos sarués, fazendo
o cachorro latir a noite inteira.
o dia que eu te beijar
vai ser mais um daqueles dias
que amanhecem com um sol brilhante.
dia de escovar os dentes na varanda,
de responder a todos os acenos
queridos dos vizinhos mais chegados.
o dia que eu te beijar será outro dia
de rastelo a levantar poeira e idéias.
depois, virá uma chuva do nada
deixando aquele cheiro de terra molhada
e quando a gente pensa em se abrigar...
a chuva já passou?
êta dia comum, o dia que eu te beijar!
vou ter vontade de tomar café
com letras, como todo dia,
vou retomar meus livros,
procurar poesias na língua dos homens
e na língua de Deus.
e será tão comum este dia
que, se por perto tivesse uma ferrovia,
nenhum horário de trem iria mudar.
tais, tais, tais e quais a tantos outros dias
que eu sonho, olhando nos teus olhos
quando te dou bom dia,
como o dia que eu te beijar...
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