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Senador tucano Álvaro Dias |
Por: Ricardo Kotscho
O cenário político visto de Brasília na semana da volta do recesso no Congresso Nacional não poderia ser mais melancólico e preocupante.
Que o governo Dilma Rousseff, como quase todos os governos do mundo, a cada dia enfrenta maiores dificuldades tanto na economia como na articulação política, estamos carecas de saber (no meu caso, literalmente...).
Pior ainda, no caso brasileiro, é a situação em que se encontra a oposição. De um quadro de fragilidade e esvaziamento que já vinha se agravando, o quadro clínico está evoluindo para o ridículo.
Sob o comando do impagável (também literalmente) senador tucano Álvaro Dias, aquele das aposentadorias como ex-governador do Paraná, que passa o tempo todo feito um bedel com uma lista na mão tentando recolher assinaturas para abrir uma CPI, qualquer uma, a oposição demotucana vive seu pior momento desde que foi apeada do poder em 2002.
Na atual legislatura, ainda não fez outra coisa. Parece que instalar uma CPI para fustigar o governo foi tudo o que restou a fazer para os partidos oposicionistas, sem discurso, sem programa, sem líderes e, ainda por cima, às voltas com disputas internas.
Não há debate político sério no Congresso Nacional sobre nenhum assunto. Para completar o clima de salve-se quem puder, o balaio de partidos aliados do governo voltou das férias em clima de beligerância, com medo de que a "faxina geral" de Dilma no combate à corrupção, que começou pelos Transportes, se extenda a outros ministérios.
Para acalmar sua tropa, Dilma anunciou que vai liberar dinheiro para as emendas parlamentares, provavelmente procurará distribuir vagas ainda abertas no segundo escalão e já encarregou a ministra Ideli Salvatti de almoçar e jantar com todo mundo para dar atenção aos descontentes.
Mesmo com o apoio popular que a divulgação do próximo Ibope deve apontar, como antecipamos aqui no Balaio, dificilmente a presidente Dilma prosseguirá com o mesmo ímpeto na sua faina para varrer a corrupção da Esplanada dos Ministérios. A esta altura do campeonato, esticar a corda pode ser perigoso.
Novo PSD é um partido "fake"?
Se este é o quadro pouco animador revelado na primeira semana de agosto (agosto, lembrem-se!) tanto pelo governo como pela oposição, melhores não são as perspectivas do novo PSD do prefeito Gilberto Kassab, que faz questão de dizer que não é governo nem oposição, muito pelo contrário.
A cada dia surgem novas denúncias sobre a farsa montada para legalizar a criação do novo partido, com assinaturas falsas, apoio de eleitores defuntos, listas suspeitas, etc.
Nesta quinta-feira também ficamos sabendo, em reportagem da "Folha", que o PSD está utilizando um "modelo único" para as atas de formação dos diretórios em pelo menos três Estados, inclusive com os mesmos erros de português.
Uma das pérolas dos seguidores kassabianos registradas nas atas em diferentes cidades:
"A unanimidade dos presentes aplaudiram (!) em aclamação...".
Além de estapear a língua pátria, o PSD já surge com os defeitos que os outros levaram anos para desenvolver na tentativa de enganar o eleitor. É o nosso primeiro grande partido "fake" de nascença.
Jobim está pedindo as contas
Nunca tinha visto um ministro insistir tanto em ser mandado embora e ninguém dar ouvidos aos seus seus apelos como está acontecendo agora com Nelson Jobim, o ainda ministro da Defesa.
O que faltava ainda? Bem, se algum motivo faltava, agora não falta mais. Em entrevista à revista "Piauí", que vai para as bancas amanhã, Jobim simplesmente detona o coração do governo Dilma instalado no Palácio do Planalto.
Chama a ministra Ideli Salvatti de "muito fraquinha" e diz que a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmannn, "nem sequer conhece Brasília".
Não que o quase ex-ministro esteja falando alguma grande mentira ou novidade, mas é estranho que até o momento em que escrevo, na hora do almoço, ele ainda esteja no cargo. Até quando?
Em tempo (às 14h):
para obter uma resposta à pergunta acima, liguei logo cedo para a jornalista Helena Chagas, ministra da Comunicação, mas até o momento não obtive retorno. Informaram-me que ela estava em reunião no gabinete da presidente Dilma Rousseff.
A amiga deve ter outras prioridades no atendimento à imprensa. É muito justo. Quando eu ocupava este lugar, no começo do governo Lula, achava mais fácil e mais justo atender a todos da mesma forma.
Desconfio, porém, que alguns colegas de outros veículos estão se tornando os verdadeiros porta-vozes do governo.